segunda-feira, dezembro 04, 2006

Leone

Há poucos filmes que me dão prazer a mais que um nível, daqueles que podemos apelidar de obras primas. Falo daqueles em que a história é um verdadeiro achado, os actores são bons ou pelo menos bem dirigidos, a realização é (quase) perfeita e a banda sonora serve de apoio ao filme, completando-o e não sendo somente música para encher o ambiente.
Lembrei-me de Era Uma Vez na América, de Sérgio Leone.
A forma como somos levados pela doçura e crueldade, pelo amor e pelo ódio, pela violência ao longo do filme espanta-me cada vez que o vejo. A forma como a música preenche os espaços, sendo mais um actor do que mera música causa-me inveja.
A possibilidade de compreender e apreender o filme em mais do que um plano, ou com mais do que um sentido é…
É!
Maravilho-me com o final, demasiado dúbio, pouco condescendente com o espectador e sorrio, melhor, rio mesmo, com a explicação dada por Leone. Será que a história que viste existiu mesmo, que não foi uma trip da personagem principal?
Dos filmes que vi de Sérgio Leone fica-me a ideia de um mestre, na verdadeira acepção da palavra. A forma como usava a câmara, a maneira como a mesma nos mostra, ou por vezes nos leva a imaginar coisas, obrigando-nos a ser espectadores atentos, permeáveis a diversos sentimentos, alterando os nossos próprios sentimentos com a música. A música em Leone não é apenas som, não é apenas mais uma forma de ganhar dinheiro com uma banda sonora com nomes sonantes. A música é, quase, o esqueleto do filme. A base da nossa sensibilidade em contraposição ao mesmo.
Leone foi capaz de fazer um genérico de quase 10 minutos em Era uma vez no Oeste, e se tivesse levada a sua avante seria hoje uma das cenas mais famosas do mundo. Leone encarou Era uma vez no Oeste como o fim dos Westerns, dos seus e dos dos outros. Leone queria os seus três actores fetiche (Leo van Cleef, Clint Eastwood e Eli Wallach ) mortos no início do filme, como prova desse desejo e sentimento. Mas, eles não foram na cantiga. De chorar por mais é o diálogo final do filme…deixando-nos uma saudade imensa do universo que vamos deixar, ainda que com um sorriso nos lábios. Enquanto vemos a construção dos caminhos de ferro a dar cabo do “good old West”.

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