e nem sei porque me acharam como destinatário. Obviamente não tenho os requisitos, mas enfim...
Deixo-o aqui como desabafo dum militante do PS, e mais uma visão nestas eleições...
Lisboa, 12 de Janeiro de 2005.
Aos Camaradas do Partido Socialista,
Estou a observar o engenheiro José Sócrates já há algum tempo. Faço-o como eleitor seguro do PS, seu fundador, tendo participado, jovem ainda, do glorioso 25 de Abril. E depois de ter tido a honra de conviver com um exemplo de socialista e de democrata como o respeitável Mário Soares, e de líderes íntegros como António Guterres e Ferro Rodrigues, lamento ser obrigado a um desabafo.
Não constato no engenheiro José Sócrates os traços de tolerância, humildade e austeridade que nossos históricos líderes sempre ostentaram como galardão e honra. Lamento, profundamente, estar vislumbrar no novo líder do meu partido um viés de intolerância política, arrogância pessoal e visível arrivismo, que a mim me causam constrangimento e ao nosso partido prestam um imenso mau serviço.
Alguns factos não podem passar despercebidos aos olhos dos que estão a acompanhar a trajectória do PS e de seus militantes, sob pena de se pagar um alto preço nas urnas e perante a história de Portugal.
O nosso partido foi retirado a Ferro Rodrigues, mesmo depois dele nos ter conduzido à maior das nossas vitórias. Aí, então, já se vislumbrara o espírito de competição negativa, de autoritarismo pessoal e de profunda e doentia vaidade pessoal do engenheiro José Sócrates.
Estou a recordar um episódio chocante, que me causou espécie, quando o actual líder do meu partido, então ministro do Ambiente, em entrevista na TVI abriu os braços, irritado, apontou o dedo a um repórter que lhe fez uma pergunta delicada sobre a acção da Quercus por causa das salinas do Samouco, e ameaçou-o de porrada. Quando, Virgem de Fátima, um Mário Soares, um Guterres, um Ferro Rodrigues, fariam isso? Nem em particular, muito menos diante de milhões de telespectadores aturdidos e surpresos com tamanho destempero, despreparo e desrespeito!
Agora começo a percepcionar seu relacionamento tenso, agressivo até mesmo, com os repórteres que estão a cobrir a jornada eleitoral. Embora a comunicação social, sabidamente, esteja a apoiar-nos, o engenheiro demonstra uma insegurança que nos alerta e deixa preocupados.
No episódio em que o líder do PS promete prioridade aos mais idosos na questão das políticas sociais, esteve próximo do disparate, quando se recusou a dizer às emissoras de televisão qual seria a fonte de tais recursos. E, cá entre nós, se ele não souber, a grande promessa passa a ser apenas um engodo eleitoral, um artifício para ganhar votos de idosos esperançosos que vivem abaixo do limiar da pobreza?
O PS tem responsabilidades muito claras para com os mais humildes, os mais desfavorecidos, os marginalizados, pois fomos sempre nós, os socialistas, os seus representantes! Não podemos, assim sendo, tratar de algo tão importante com uma leviandade que salta aos olhos de toda a Nação.
Lanço um alerta aos companheiros do partido, aos portugueses em geral: não derrotaremos a direita se não formos conduzidos pelas mãos fortes de um líder acerca do qual não existam contestações de ordem pessoal, moral, empresarial ou política. Não triunfaremos se não se projectarem valores sólidos e verdadeiros, e se nossas promessas não forem exequíveis e respeitáveis.
Não vejo no engenheiro José Sócrates, e o digo com uma dor no coração e lamentando fazê-lo, os traços para a liderança para de Portugal que defendemos: humildade, equilíbrio e competência.
Nos últimos dias temos observado as contradições gritantes que o atormentam. O líder do PS está-se a revelar aos olhos dos portugueses, como um poço de contradições, um senhor dos ziguezagues, um mutante costumeiro, uma alma inquieta e atormentada, que muda ao sabor dos ventos como se de uma copa de árvore se tratasse.
Sempre acreditei que as reiteradas assertivas de Manuel Alegre quanto a José Sócrates não passavam de alguma implicância pessoal ou mesmo despeito. Fui injusto com o grande poeta e ilustre companheiro socialista.
Há uma outra parte, ainda mais sensível, do debate político. Em relação ao envolvimento de José Sócrates no caso Sovenco, empresa de combustíveis que faliu e da qual Armando Vara (que foi condenado a 4 anos de prisão) e Fátima Felgueiras (foragida da justiça e refugiada no Brasil) eram sócios. Há, inclusive, material da comunicação social até mesmo sobre o enriquecimento de Sócrates. Refiro-me à revista Focus, na edição 257, de 15 de Setembro de 2004, que destacou estas histórias na sua capa: A vida secreta de José Sócrates. O subtítulo, ainda na capa, é arrasador: Mora num prédio de luxo, faz vida de rico e declara, como único rendimento, o seu ordenado de deputado. Vamos ficar cegos diante de tal disparate, jamais desmentido?
Oxalá o meu desabafo seja lido como um exagero de precauções. Temo, porém, pressagiar tempos difíceis para meu partido, por conta de um engano que, aos poucos, se vai descobrindo, mesmo que em voz baixa, mesmo que envergonhadamente, por entre as paredes da nossa imponente sede, no Largo do Rato.
Saudações socialistas,
Manuel António Torres Alves
Vila Franca de Xira
Nota: recebi este mail logo na altura, a vintes de Janeiro. Mas já não ia ao tal mail há uns mesitos...
Ouvir
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O sermão de Domingo passado, chamado "O futuro que vem do rosto de Deus",
pode ser ouvido aqui (ou no Spotify).
Há 1 dia
2 comentários:
Oh Tiago antes de publicares isso deverias ter-te informado do que se tratava. Há já algum tempo que esses, e outros, e-mails circulam pela internet, especialmente através do Portugalmail. Aliás, já foram feitas várias queixas ao Portugalmail, visto se tratar de um claro abuso da base de dados, que se supõe confidencial. Portanto, como deves calcular a origem desse e-mail não é de nenhum desiludido do PS, pois continuaram a mandar e-mails com o mesmo fim... Talvez sem muito esforço consigar perceber a sua verdadeira origem...
Há uns dias atrás tinha escrito isto no meu blogue:
"Depois dos boatos sobre a eventual, e desmentida, homossexualidade de José Sócrates, agora, procura-se fazer insinuações, que não passam de calúnias, que visam a sua idoneidade e honestidade. Já para não falar dos cartazes do JSD e de muitas outras pequenas coisas, entre as quais os inúmeros e-mails difamatórios que recebo na minha caixa de correio do portugalmail, por supostos desiludidos do Partido Socialista. De facto, nunca se assistiu, em Portugal, a uma campanha tão suja como esta. Uma vergonha."
Fica bem
Eu nem sei o que fazes aí em Cabo Verde, podias estar a trabalhar ao lado do Engenheiro Sócrates. Qualquer ataque ao homem parece que é um ataque à tua pessoa.
Sinceramente acho que os cartazes não são nada de especial, eu pelo menos gosto bastante daqueles que dizem "Querem que eles voltem"? Não acho de baixo nível, aliás se leres os posts sobre ou com transcrições do Portugal, Hoje vais ver onde quero chegar.
De qualquer modo acho que se alguém tem motivo para colocar processos em alguém, sou eu: Chamaram-me socialista! Tenham dó, há limites!
Fica bem...
Nota: eu também não gosto deste PSD, nem faço questão de votar neles, mas não aceito que o PS se faça de vítima ou de salvador. O homem não manda uma para a caixa, evita dar respostas, e se alguém lhe diz isso, por exemplo ontem a Constança Sá e Cunha, levanta a voz, é malcriado e afins...É um clone do Santana Lopes com algumas ligeiras diferenças, mas um clone!
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