Acorda, mais uma vez, depois da hora. Já sabe que vai chegar atrasado à aula.
Vários minutos depois entra no metro, o qual está mais atafulhado do que ele gostaria. No entanto senta-se num banco milagrosamente vagado.
Olha para além do vidro, olhando para as pessoas na outra linha, começa uma linha de raciocínio mas ao olhar em frente esta é interrompida. Sentada à sua frente está uma mulher com pouco mais de trrinta anos, pelo menos são as contas que faz. Morena, extremamente bonita, mas com um ar demasiado triste.
Ele olha novamente para ela e pensa no quão bonita ela é. Baixa o olhar para a mão e vê uma aliança, pensa em como há homens com sorte.
Mais uma vez pouco dormiu. Com 34 anos a vida é, cada vez mais, um inferno. O casamento de sonhos há muito que se desvaneceu e em pouco tempo o Príncipe encantado transformou-se num sapo rude e violento.
Mais uma vez bateu-lhe, gritou-lhe e tudo sem ela saber muito bem porquê. Hoje já acha que não é necessário dar uma explicação, ele não é propriamente muito racional na maior parte das vezes.
Hoje dá graças a Deus por não terem tido filhos. Ele não os merece, e as crianças não mereciam viver assim, de qualquer modo, pensa enquanto está sentada no metro.
Está cansada, talvez a culpa seja sua. Enquanto se dirigia para o metro foi-se formando no seu interior o firme desejo de terminar com a sua vida. O fim é melhor do que a continuação deste calvário, pensa desesperadamente. As forças parecem faltar-lhe, está farta e cansada e o fim parece ser a única saída definitiva. Quando entra no metro a decisão está tomada, falta decidir quando.
Enebriada nestes pensamentos sombrios, não sente que alguém se senta em frente dela.
Um pouco depois os seus olhares chocam, ele olha para ela com algum interesse, simpatia e será que, com desejo?
Olha-o nos olhos e sorri.
Que parolo, diz ele para si mesmo. Sente-se envergonhado, sem saber muito bem porquê. Por a mulher lhe ter sorrido? Por lhe ter olhado nos olhos quando ele olhava para ela?
A verdade é que se sentiu envergonhado, sentiu a cor invadir-lhe a rosto.
Olhava para ela, pensando em como ela era bonita, como tinha uma cara perfeita e nos seus olhos tristes, imensamente tristes.
Não namora há uns meses, namorou duas vezes por muito pouco tempo. Sabe que a culpa dos naufrágios emocionais é dele. Continua a procurar um amor utópico e idílico, uma coisa cinematográfica sem demasiados contrapontos. Criou mentalmente um tipo de relação que não existe, à mínima discussão desiste e sente-se traído. Não sabe ainda como lutar pelo amor, acredita que este vem em pacote pronto a vir servido.
Volta a olhar para ela, sente que ela não olha para ele de propósito. Talvez para que ele não o encavacar de novo.
Ela olha-o novamente nos olhos. Sorri por ver que ele a continua a olhar. Desta vez contém a vergo9nha e suporta o seu olhar. Sente-o perscrutá-la e avaliá-la de algum modo. Sente o olhar como um elogio, há muito tempo que não sentia ninguém olhar para si com desejo, interesse. Sente alguma alegria pelo facto.
Esqueceu-se, por completo, dos pensamentos sombrios que a atacavam à poucos minutos atrás.
Ou melhor, trocou-os por outros.
Levanta-se, inclina-se para o rapaz, que desvia automaticamente o olhar e beija-o na face.
Vai para casa, faz as malas e leva-as para casa dos pais. Sabe que os vais preocupar, mas sabe que não lhe vão virar costas. É tempo de recuperar a alegria e a dignidade. Sabe que voltará a ser feliz e deve-o a um estranho. A vida é, ela própria, estranha.
Nunca saberá o nome dele, mas estar-lhe-ei eternamente grata.
Recebeu o beijo com surpresa, estupefacção mesmo. Ficou estupidamente alegre, como quem encontra um tesouro perdido sem estar à espera. Dizer que aquele beijo mudou a sua vida seria um exagero e em certa medida uma mentira. Mas que mudou a sua forma de olhar para o amor e para as mulheres, isso é verdade. Mas não tentemos dar razões ou explicações para tal caso, cada homem é um homem e o coração funciona de modos tão diferentes que ficaríamos aqui o resto da vida.
Vários minutos depois entra no metro, o qual está mais atafulhado do que ele gostaria. No entanto senta-se num banco milagrosamente vagado.
Olha para além do vidro, olhando para as pessoas na outra linha, começa uma linha de raciocínio mas ao olhar em frente esta é interrompida. Sentada à sua frente está uma mulher com pouco mais de trrinta anos, pelo menos são as contas que faz. Morena, extremamente bonita, mas com um ar demasiado triste.
Ele olha novamente para ela e pensa no quão bonita ela é. Baixa o olhar para a mão e vê uma aliança, pensa em como há homens com sorte.
Mais uma vez pouco dormiu. Com 34 anos a vida é, cada vez mais, um inferno. O casamento de sonhos há muito que se desvaneceu e em pouco tempo o Príncipe encantado transformou-se num sapo rude e violento.
Mais uma vez bateu-lhe, gritou-lhe e tudo sem ela saber muito bem porquê. Hoje já acha que não é necessário dar uma explicação, ele não é propriamente muito racional na maior parte das vezes.
Hoje dá graças a Deus por não terem tido filhos. Ele não os merece, e as crianças não mereciam viver assim, de qualquer modo, pensa enquanto está sentada no metro.
Está cansada, talvez a culpa seja sua. Enquanto se dirigia para o metro foi-se formando no seu interior o firme desejo de terminar com a sua vida. O fim é melhor do que a continuação deste calvário, pensa desesperadamente. As forças parecem faltar-lhe, está farta e cansada e o fim parece ser a única saída definitiva. Quando entra no metro a decisão está tomada, falta decidir quando.
Enebriada nestes pensamentos sombrios, não sente que alguém se senta em frente dela.
Um pouco depois os seus olhares chocam, ele olha para ela com algum interesse, simpatia e será que, com desejo?
Olha-o nos olhos e sorri.
Que parolo, diz ele para si mesmo. Sente-se envergonhado, sem saber muito bem porquê. Por a mulher lhe ter sorrido? Por lhe ter olhado nos olhos quando ele olhava para ela?
A verdade é que se sentiu envergonhado, sentiu a cor invadir-lhe a rosto.
Olhava para ela, pensando em como ela era bonita, como tinha uma cara perfeita e nos seus olhos tristes, imensamente tristes.
Não namora há uns meses, namorou duas vezes por muito pouco tempo. Sabe que a culpa dos naufrágios emocionais é dele. Continua a procurar um amor utópico e idílico, uma coisa cinematográfica sem demasiados contrapontos. Criou mentalmente um tipo de relação que não existe, à mínima discussão desiste e sente-se traído. Não sabe ainda como lutar pelo amor, acredita que este vem em pacote pronto a vir servido.
Volta a olhar para ela, sente que ela não olha para ele de propósito. Talvez para que ele não o encavacar de novo.
Ela olha-o novamente nos olhos. Sorri por ver que ele a continua a olhar. Desta vez contém a vergo9nha e suporta o seu olhar. Sente-o perscrutá-la e avaliá-la de algum modo. Sente o olhar como um elogio, há muito tempo que não sentia ninguém olhar para si com desejo, interesse. Sente alguma alegria pelo facto.
Esqueceu-se, por completo, dos pensamentos sombrios que a atacavam à poucos minutos atrás.
Ou melhor, trocou-os por outros.
Levanta-se, inclina-se para o rapaz, que desvia automaticamente o olhar e beija-o na face.
Vai para casa, faz as malas e leva-as para casa dos pais. Sabe que os vais preocupar, mas sabe que não lhe vão virar costas. É tempo de recuperar a alegria e a dignidade. Sabe que voltará a ser feliz e deve-o a um estranho. A vida é, ela própria, estranha.
Nunca saberá o nome dele, mas estar-lhe-ei eternamente grata.
Recebeu o beijo com surpresa, estupefacção mesmo. Ficou estupidamente alegre, como quem encontra um tesouro perdido sem estar à espera. Dizer que aquele beijo mudou a sua vida seria um exagero e em certa medida uma mentira. Mas que mudou a sua forma de olhar para o amor e para as mulheres, isso é verdade. Mas não tentemos dar razões ou explicações para tal caso, cada homem é um homem e o coração funciona de modos tão diferentes que ficaríamos aqui o resto da vida.
1 comentário:
"O coração tem razões que a propria razão desconhece" - Pascal
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