sábado, janeiro 21, 2006

Lembro-me de no início da década de 90 ver um filme na RTP2, um filme alemão que contava a história de uma jovem à procura de respostas, respostas sobre o que acontecera nas décadas de 30 e 40 na Alemanha. Não me lembro de muita coisa, mas lembro-me que as respostas eram dadas com vergonha, com dor, com violência. E em geral a resposta era não ou nada. Não digo nada, não aconteceu nada, ou desaparece!

Também Usas o Meu Nome
de Norbert e Stephan Lebert trata sobre a vida, o pensamento, os traumas, as experiências dos descendentes dos dirigentes nazis.
Achei o tema extremamente interessante. Nunca me tinha lembrado do que poderia ter acontecido aos descendentes dos dirigentes/altos quadros nazis.
Também Usas o Meu Nome responde a algumas das questões que se levantam, está editado pela Ambar e vale a pena desfolhar as suas páginas.

O que mais me surpreendeu, e se calhar não deveria ter acontecido, foi como filho de peixe sabe nadar. Muitos dos descendentes nazis continuam a perfilhar das mesmas ideias, da mesma ideologia, do amor à figura paternal e dum respeito, quase adoração à figura de Hitler. Respeito, amor, discipulado são algumas das ideias que perpassam pelo livro e pela história de alguns destes descendentes.

Deixo-vos alguns excertos.

Uma última pergunta: se alguma vez na sua vida sentiu que o apelido do seu pai era uma condenação. “Uma condenação, como? – pergunta-me por sua vez Hess. – Não, nunca, em caso algum”.
No seu livro Rudolf Hess: “Não me arrependo de nada”, Wolf-Rudiger conta como comunicou ao pai, na prisão, o nascimento dos seus três filhos. A primeira filha nasceu a 23 de Abril, e Rudolf Hess felicitou-o com uma carta que ironizava ao de leve a “falta de pontaria”, referindo-se a 20 de Abril, o aniversário do Fuhrer. Não é fácil de acreditar, mas um ano mais tarde chegou ao mundo o pequeno Wolf Andreas, e desta vez tudo coincidiu, já que a data do seu nascimento foi precisamente 20 de Abril.”

“Há pouco fui ao cinema ver o “Fight Club” com Edward Norton e Brad Pitt. Um filme que teve muito êxito e que era bom do ponto de vista cinematográfico e técnico. Como disse, talvez esteja a ler demasiado sobre o tema, mas a história desse filme podia ser, mudando ligeiramente as coordenadas uma história sobre o movimento nazi. Um jovem reflecte sobre a sua vida vazia de sentido numa sociedade vazia de sentido. Com um pseudo-amigo funda o chamado “Clube de Combate”, onde jovens e bem parecidos rapazes se encontram para lutar; para se sentirem vivos outra vez. Em todos os lados vão proliferando esses clubes secretos, numa unidade de assalto como as SS ou as SA. Gostaria de perguntar a Klaus von Schirach, o filho do chefe das Juventudes Hitlerianas, o que acha deste filme, se lhe lembra de alguma forma os tempos passados ou o seu pai.”

“O nome de Heinrich Himmler e a sua casa têm para Martin Borman um significado especialmente atroz. (...) Hedwig Potthast, secretária e amante de Himmler disse-lhes que lhes queria mostrar algo muito interessante, uma colecção particular do seu chefe; subiram ao sótão e abriu a porta; havia ali mesas e cadeiras feitas com partes de corpos humanos. O assento era uma pélvis lavrada, os pés de outra eram umas pernas humanas, incluindo os pés. Imediatamente a senhora Potthast lhes mostrou um exemplar de Mein Kampf encadernado com a pele de umas costas humanas.”
“Este tema foi tabu durante muito tempo. Que destino implica ser filho de um nacional-socialista, de um criminoso, de um assassino? Como sobrevive uma pessoa a uma coisa destas? Que dose de sofrimento isso acarreta? Ou dito de uma outra forma: o filho de um nazi é também uma vítima?”

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