sexta-feira, fevereiro 03, 2006

Dezasseis anos. Já tenho dezasseis anos. Humpf...Ainda só tenho dezasseis anos.
Estamos no verão. No verão alentejano. Junto ao mar. Quente de dia, mas frio de noite. Estou num parque de campismo. Com os meus pais e uma prima. A prima é mais velha. Sabe da vida, mais do que eu, pelo menos. Já teve namorados, já foi para a cama com um. Ou dois. Faz olhinhos a alguns rapazes à noite, quando vamos ao café do parque. Sem os pais, claro. Os pais estão demasiado velhos para se preocuparem muito connosco. Aliás, a prima veio para tomar conta de mim. Se eles soubessem...
Disse-me que era demasiado queque. “fazes tudo o que os teus pais mandam”?
“De quem são esses livros”, perguntou-me chocada. Disse-lhe que eram meus, que os trouxera para ler. Riu-se, “viemos por duas semanas, chavala, não por um ano”!!!
Ainda não consegui ler nada, quando me sento na toalha, ela fica ao meu lado por uns breves instantes embasbacada, depois começa a falar e já não pára. Quando decide ir para a água, puxa-me e leva-me. Depois atira bocas aos rapazes, fixa-os e mete-se com eles. Há sempre um ou outro que entram na brincadeira, mas ela diz-me que eu estrago sempre tudo.
Estou tão farta! Não consigo ser quem eu sou, ela está sempre a fazer-me uma imagem continuação dela, quase que uma gémea, pelo menos no que diz respeito aos actos.
Gostava de estar sozinha, os pais podiam estar, era quase a mesma coisa que estar sozinha. O pai lê o jornal desportivo, passa metade da tarde ao telemóvel com a empresa, quase que não fala connosco – mãe incluída! A mãe, lê algumas revistas de quadrilhice, em português, espanhol e inglês. Nada imenso cada vez que vamos à praia, passa imenso tempo dentro de água. À noite está demasiado cansada para se aguentar em pé.
E eu e a minha prima vamos até ao café. Eu não vou lá fazer nada, mas a chata da prima insiste. No primeiro dia não fui e ela ficou comigo. Não se calou, criticou-me imenso, e olhou para o telemóvel imenso tempo.
Anteontem o bar estava cheio de fumo, de homens e na televisão não dava nada de jeito. Um jogo qualquer de pré-temporada! Eu já não gosto de bola, e estar dentro dum café com homens a beber e a fumar, gritando cada um para o seu lado...ao fim de cinco minutos disse-lhe para irmos embora, mas não quis. Ficámos ali um pouco e depois disse-me que esperasse por ela um pouco...que não demorava.
Fiquei ali dez minutos. E depois mais dez. E depois o jogo acabou. Os homens foram-se embora pouco a pouco. Decidi que estava na hora, e saí.
A meio do caminho ouvi-a chamar por mim. Chegou afogueada e chateada por não ter esperado por ela. Não disse onde tinha estado. O telefone tocou, rapidamente e ansiosa olhou para o visor. Sorriu, amareladamente: “É a Joana! Uma amiga minha”.
Agora que penso nisso, não me lembro da minha tia ou tio lhe terem ligado. E ela raramente fala dos pais, e está sempre em cima dos meus, demasiado prestável e educada. Diferente da forma como se comporta comigo.É verão. Estou num parque de campismo. E não consigo fugir, nem interiormente!

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