Um ritual sabatino é sentar-me num café, a ler os jornais (o Expresso, o DN e/ou o Público). Confesso que o que me arrasta nesta aparente fome de notícias são os suplementos de cultura, o Actual, o 1000 Folhas e a revista do DN. Daí parto para as notícias e para as crónicas.
Hoje escolhi um café não muito visitado. É mais um daqueles da moda antiga, com ar de taberna de primeira, onde se pode almoçar ou somente beber o cafezinho. Escolhi-o de propósito, sei que não é assim tão frequentado, não tem tanto ruído de fundo como os que se encontram perto da minha casa, em que não me consigo concentrar, com o barulho dos miúdos a gritarem, chorar ou só a pedir à mão aquele bolo.
Ali são os velhotes, os que ainda trabalham ao sábado ou os que se levantam mais tarde e fogem de casa para beber um café ou fumar um cigarro longe da esposa.
À minha frente encontra-se uma anciã, já pediu há coisa de cinco minutos uma torrada e uma meia de leite. Enquanto espera olha no vazio. Não levanta os olhos, não observa o que está à sua volta, não se mete na discussão dos donos do café. Olha para baixo, para o fundo vazio, sem sorrir, num aparente coma.
Responde quando lhe perguntam o que acompanha com a torrada, assim desinteressada.
Come como se nada mais fosse natural, mas sem alegria, comer é somente uma acção do corpo, nenhum sentimento lhe está aliado.
Pede mais um café, bebe-o e pede a conta. Sempre que levantei os olhos do livro ou dos jornais a velha estava ali, como se não estivesse. Ausente na sua presença corporal.
Finalmente, toca o telefone. E o mundo entra no seu mundo, fala. Diz qualquer coisa. Despacha-se. E abala...
Eu? Eu volto ao livro, ou aos jornais...
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