sábado, agosto 12, 2006

Minto Até ao Dizer que Minto

Minto é um dos contos que a Visão oferece (por uns módicos 3.70€) este verão e é da autoria de José Luís Peixoto.
É uma boa surpresa, e digo surpresa porque rompe com o que já se conhecia do autor.
Trata-se de um conto divertido sobre dois jovens (ou só um, como quiserem) que passam um verão (Agosto) em Lisboa. As aventuras num sexto andar perto do Saldanha far-vos-ão sorrir, e gargalhar.
O que fazer em Agosto? Com um colega que quase não dorme, poucas horas (2) por semana? Num Agosto pejado de turistas, noitadas, ócio e falta de actividades, num Agosto em que um bilhete fará a vez de um romance.
Experimentem, vão gostar.
"(...)lembrei-me da vez em que a minha mãe encontrou um papel nas calças do meu pai antes de enfiá-las na máquina de lavar. Cheguei a ver esse papel. Tinha frases soltas.
Quanto tempo lá ficas?
Não me queres levar?
Eu é que ando a precisar de descanso.
E outras do género. A minha mãe não queria acreditar. Assim que encontrou o papel, convenceu-se de que era um papel escrito pelo meu pai para alguma mulher num momento em que não podiam falar à vontade. Passou a tarde a cismar nisso. Quando o meu pai chegou, explicou-lhe que, afinal, que aquele era o papel que utilizara para conversar com o homem surdo, que conhecia havia anos - muito antes de ter ficado surdo -, o homem que falava demasiado alto e que pronunciava o nome do meu pai de maneira cómica."
"Que chatice era o Chiado e o Largo de Camões.
Não falámos, apenas contornámos pessoas. Imaginei o que seria ver os movimentos dos nossos corpos se todas aquelas pessoas - turistas com mapas, indigentes a pedirem cigarros, adolescentes tardios de calças largas, idiotas com bonés à noite -, se todas aquelas pessoas desaparecessem e ficássemos só nós a fazermos os movimentos de as contornarmos. Afinal, teríamos de admitir, somos capazes de dança moderna."

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