sexta-feira, novembro 24, 2006

Engraçado como sempre construí ( e construo) histórias na minha cabeça. Raramente têm um fim, ainda mais raramente passam para o papel!
Dizia a alguns dos meus amigos da Callema (assunto recursivo, nestes últimos tempos, eu sei!) que o meu sonho sempre foi ser leitor. Não sei se vos parece estranho, mas é verdade.
Nunca fui daqueles leitores precognitivos, sempre esperei que a história seguisse o seu rumo natural. E, depois de tantas histórias lidas e vistas, ouvidas e imaginadas acarinho o conceito de um bom escritor.
Há poucos bons escritores. Aqueles que nos surpreendem, que nos fazem olhar com cuidado para as palavras, para o cenário, para o espaço between the words. Há pouca gente que me agarre e estremeça.
Há autores que o fazem pela história, outros pelo estilo, raros os que juntam o estilo, a sensibilidade e a história.
Vi 3 episódios de Studio 60 on the Sunset Strip de Aaron Sorkin, o mesmo de The West Wing (sim, eu sei, já falei disto aqui, e não há muito tempo. Indulge me, ok?).
Não deixa de ser irónico que uma série filme sobre dois produtores de televisão, sobre um programa de televisão e as lutas pela audiência lute pelas audiências na televisão americana. O risco é grande, ser cancelada.
E deixem-me dizer-vos...a culpa não será do seu criador. The West Wing morreu quando ele saiu, em termos de audiência, e durou mais três anos. Esperemos que Studio 60 dure alguns anos.
Sorkin é dos argumentistas actuais o que mais me dá prazer a nível linguístico, a forma como ele usa as palavras, a quantidade de palavras num episódio de Sorkin é quase o dobro de uma outra série qualquer; a estrutura das suas séries é pensada quase ao milímetro, os episódios são relembrados ao longo da série, as personagens respondem pelos actos passados e o público é tido como um público inteligente e atento. Tudo tem de fazer sentido na hora e nas seguintes. O episódio é uma unidade, mas a série é, igualmente, uma unidade, de episódios.
Sorkin tem uma sensibilidade rara, e não falo de sensibilidade em termos sentimentalões, refiro-o no que diz respeito às personagens e à acção propriamente dita. Há, sempre, várias personagens nas séries de Sorkin, e elas nunca são formatadas, são diferentes entre si, ultrapassam a lógica banal e corrente do cliché, e têm, cada uma, a sua voz.
Comparem as personagens deste Studio 60, lembrem-se de Toby, Joshua, Leo, Bartlet(s) e outros em The West Wing.
Sempre quis ser leitor e autores como Sorkin mostram-me a alegria de tal feito, mas autores como Sorkin levam-me a querer ser um pouco como ele, um escritor, mas um escritor com muita, muita qualidade.
Maybe one day...
...mas eu não esperaria sentado, ou melhor, a esperar sentado só a ver The West Wing, Sports Night, Studio 60, ou Uma Questão de Honra - não sairão decepcionados.

1 comentário:

zarah disse...

Bem, andas mesmo a tentar "converter" a malta...
Quanto ao "tal" livro, acho que já esteve mais longe de se materializar... Tens que me deixar fazer a capa, viu?