quinta-feira, dezembro 28, 2006

Trevas?

Amigo, se não és diz que não e pronto.
Afinal é fácil, é uma questão de coerência. Se concordas diz que sim, se não meneia a cabeça.
Tentam convencer-me que vivo numa sociedade tolerante. Vade retro...
Tolerante? Só se for para com os outros...
Celebrar o natal é uma ofensa. Confesso que não consigo perceber, e admito que o defeito seja meu. Quando as televisões dão tempo de antena ao Ramadão, os jornais entrevistam os futebolistas que o fazem há alguém que se escandalize?
Quando os Gato Fedorento fazem um sketch de Jesus há uma boa opção, desligar a televisão ou mudar de canal.
Lia a notícia de uma trabalhadora da British Airways que foi posta na prateleira por usar uma cruz ao pescoço, e ela contrapõe com o uso de véus e turbantes por outros colegas. Tolerância?
Eu até aceito que não sejamos uma sociedade tolerante, mas ao menos que o digamos.
O que serve para uns, não serve para outros?
Se há um atentado islâmico a culpa é do ocidente. Se os Estado Unidos se mudam para o Iraque a culpa é do Ocidente. Se um líder de Extrema-Direita quase chega ao poder na Áustria todos se revoltam, se o Presidente do Irão convoca um colóquio para provar que não existiu Holocausto ninguém abre a boca. Dois pesos, duas medidas.
Christmas é trocado por holiday, o uso de iconografia religiosa é proibido para não chocar outros.
É isto tolerância? É isto um estado laico? Se é tirem-me daqui.
É proibido fumar. É proibido comer carne. É proibido ser contra o aborto. Ou a favor. É proibido ser extremista. Amiguinhos, é deste modo que se fazem extremistas.
Eu aceito que haja pessoas que tenham como alvo de vida não comer carne, mas impedirem-me de o fazer? Aceito que haja pessoas que sejam contra as touradas, mas daí a chamar nomes e a incentivar à violência para quem está do outro lado. É isto tolerância?
Francisco José Viegas escrevia há dias: Daqui a uns anos, inclusive, o mundo estará cheio de nostálgicos da liberdade. Gente que terá saudade do tempo em que podia festejar o Natal sem ser acusada de estar a insultar os muçulmanos e os ateus; gente que podia publicar cartoons e rir dos outros - que é uma actividade meritória. Haverá nostálgicos do tempo em que podiam fumar um cigarro ou um charuto, comer costeletas de novilho com osso, andar de minissaia sem ser apedrejada, ler um livro sem levantar suspeitas - enfim, sem ser controlado de alguma maneira por Entidades Reguladoras ou por chips electrónicos que armazenam cada passo que damos, cada fronteira que atravessamos, cada doença de que nos queixámos. O ex-ministro Freitas do Amaral tinha razão na ocasião das caricaturas de Maomé ele antecipou um tempo em que teremos medo, medo real - e não medo apenas do seu dedinho espetado, pregando um ralhete aos seus concidadãos "que confundiam liberdade com libertinagem". Mesmo eu, que não sou católico, reconheço a ameaça policial que os fanáticos dirigem contra a celebração do Natal. Os jornais têm publicado queixas alarmantes de pessoas insuspeitas que relatam casos de auto-censura cada vez mais ridículos (em Espanha, houve escolas que proibiram festejos de Natal e em Inglaterra, Birmingham, a ideia de festejar o nascimento de Cristo foi considerada ofensiva). O ex-ministro Freitas do Amaral tinha razão: teríamos feito bem mandar queimar os "cartoonistas" dinamarqueses. Talvez ele também ache que a celebração do Natal seja uma agressão contra as hordas de desequilibrados que incendiaram embaixadas pelo Médio Oriente fora em nome da sua "ofensa". Tenham medo. Tenham medo verdadeiro desse tempo. Nada do que façam deixará de ser vigiado. Nada do que digam deixará de ser tido em conta. Nenhuma das vossas crenças deixará de ser considerada ofensiva. Nem mesmo no interior de nossas casa deixará de estar presente esse Big Brother politicamente correcto, vigiando o que comemos, o que comemoramos, o que dizemos. Não contem anedotas, não consumam colesterol, não riam. Deixará de haver uma lei da República que vos garanta a liberdade de fazer; haverá, antes, uma lei que vos restringirá a liberdade de ser o que quiserdes ser. Em nome do Estado, do bem comum, das crenças absolutas dos outros - sempre com a bênção dos que sabem, por nós, o que é melhor para nós. Sim, estamos em guerra pela nossa liberdade.
Na ânsia de sermos tolerantes estaremos a perder o que mais prezamos, a liberdade.
Apelidamos alguns governos de autoritários/fascistas por muito menos, ou será impressão minha?

Sem comentários: