sábado, fevereiro 17, 2007

Para o Domingos - Livro de Crónicas no Dª Maria

O Domingos telefonou-me a meio da tarde a perguntar se queria ir ao teatro, ver uma adaptação das crónicas de António Lobo Antunes. Respondi que sim e lá fui eu e a namorada. Chegados lá houve um problema com os bilhetes, convites, mas conseguimos entrar em detrimento do Domongos, da Vanda e de mais alguns amigos, em comum ou não.
Na verdade, a transposição destas crónicas não é uma peça de teatro é antes o reultado de uma workshop com o encenador brasileiro Aderbal Freire-Filho.
Aderbal é conhecido pelo «“romance-em-cena”, uma encenação de um texto não teatral, integralmente transposto para o palco», em que tenta «descrever com gestos o que as suas palavras (do texto) vão narrando.»
Fiquei muito satisfeito com o resultado final, a orgânica e química entre os actores resultou muito bem, principalmente quando se tratou de 5 semanas de trabalho, e a realidade do texto torna-se intrínseca ao trabalho dos actores, se a podemos olhar como um todo, também é verdade que é interessante tentarmo-nos distanciar e procurar ver o que pertence a um e outro, para de melhor maneira descobrir a natureza e magia do teatro.

Aderbal confessa que «o teatro oferece-nos um sem número de possibilidades. Se é verdade que o teatro pode tudo, seria absurdo que ele não pudesse fazer a palavra. Eu acredito que o teatro pode tudo, que comporta infinitas variações e que pode usar a palavra de uma forma plenamente cénica. Interessa-me, assim, descobrir as potencialidades cénicas de um romance romance, explorando, num segundo momento, algumas das suas características mais específicas.» Ora, é isto que torna a transposição das Crónicas de Lobo Antunes uma experiência interessantíssima, descobrir as escolhas, ver a composição cénica com simples adereços e criar uma nova realidade, em conjunto com a realidade primeira (o texto) a ser lida.

Para o encenador «O “romance-em-cena” assenta assim na imaginação despertada no espectador e nos recursos cénicos que estão ao dispor do actor, fazendo-o, simultaneamente, dizer e mostrar. Acaba por ser a convivência de uma capacidade narrativa e dramática que faz do actor um profissional mais completo. » e eu acrescentaria também o espectador. Não nos toma como tabulas rasas, mas como seres pensantes, e ainda que não possamos interagir, somos levados a ver, pensar, recriar e remoer o texto agora teatralizado.
Por outro lado, e sem querer menosprezar Aderbar Os Livros de Crónicas acabam por nos mostrar o Actor, é uma realidade teatral que tem mais como base o papel deste e valorizar o papel do actor.
Concluindo, gostei muito e tenho que agradecer ao Domingos, que infelizmente não a pode ver.
Obrigado.
Mais informação sobre o resultado do Workshop aqui, e uma entrevista ( de onde forqam tiradas as citações) com o encenador aqui.
O espectáculo já terminou, ontem foi o último dia de apresentação.

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