Voltei a colocar o livro Crónicas de António José Saraiva (pai, não o director do Sol) debaixo dos meus olhos.
O livro tem crónicas de vária ordem, mas achei interessante as crónicas sobre o ensino e o estado do mesmo em Portugal. Parece que pouca coisa mudou.
Em As Reformas de Ensino e a Vida Nacional escreve AJS "Qual é a articulação das nossas escolas com os vários órgãos da vida colectiva? (...) que destino têm os seus licenciados? (...) A Faculdade de Letras (o artigo data de1945, a esta podia-se acrescentar, hoje, tantas outras, olhem a FCSH da Universidade Nova) é o exemplo típico de escola cujo ensino não tem sequência, nem continuidade, nem aplicação nas funções do organismo português. É como um viveiro de peixes, cujo destino é a morte ao ar livre. (...) Uma reforma não é boa nem é má em absoluto: é apenas mais ou menos adequada a uma realidade social económica e política; que corresponde às ideias dominates e ao nível de cultura de um classe dirigente; está ao serviço de interesses em jogo. Uma reforma verdadeira de ensino supõe uma reforma global da vida da colectividade: o que explica ao mesmo tempo a inutilidade de certas reformas que pretendem meter as coisas nos eixos, de alguns videntes desinteressados; e a persistência de certos órgãos e actividades aparentemente fossilizados e obsoletos" (págs.34-38).
Num outro artigo, O Liceu (de 1945) AJS discute a "cultura geral" e a necessidade desta não ser papagueada, mas sim concretizada, posta em prática, "articulação entre cultura e técnica", uma formação em vez de catequização, o ensinar a fazer e a pensar.
Pode ser que Bolonha altere um pouco o quadro nacional, mas para isso é necessário mudar mentalidades e vivências, vamos a ver se conseguimos e se ainda vamos a tempo. são muitos anos de obscurantismo educacional...
Extremamente actual, pena que ninguém o tenha levado realmente a sério. Enfim...a ler as Crónicas de António José Saraiva -QuidNovi.
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