quarta-feira, outubro 31, 2007

Pausa nas Breves Narrativas?

Ando com uma ideia para uma história mais longa que o normal (vide as Breves Narrativas).
Deixo-vos uma pequena ideia do que poderá ser, sabendo que muito será alterado. Há aqui coisas com as quais não estou nada satisfeito, e há alterações que já estão decididas.

5 de Maio – 5ª Feira
Da parte da Tarde

O dia está quente, daí que tenham trocado um passeio a um sítio qualquer com uma volta à Praia do Meco. Ela diz-lhe para pararem a caminho, dirige a mota para as árvores onde costumava “piknicar” com os pais quando era pequeno.
Afasta-se mais do que o normal da estrada principal. Ela sai da mota e encosta-se a uma árvore com um ar lânguido.

6 de Maio – 6ª Feira de madrugada

João Luís Malvas tem 35 anos, solteiro, é polícia há 10 anos.
Cresceu no Seixal, no tempo em que ainda havia quintas e o subir às árvores era um desporto obrigatório para todas as crianças.
É meia-noite e o Agente Malvas encontra-se perto da paragem da Arrentela, na marginal, antes do Eco-Museu. Apetece-lhe acender um cigarro, mas deixou de fumar há 3 anos. Fora de serviço costuma comer chupas, em serviço nunca, o que diria um automobilista a um polícia de chupa na boca?
Vê, cada vez mais, a sua profissão com cinismo. Faltam cerca de três meses para as Festas de São Pedro, tem pena que não possa pedir férias para essa altura. O ano passado prendeu dois jovens que tinham feito um pequeno furto. Jurou para nunca mais. Os dois jovens não estavam sozinhos, faziam parte de um grupo vindo de um bairro social problemático ali perto. Quando dera por ele, e pelo companheiro, estavam rodeados por 20 adolescentes e jovens adultos, todos com armas brancas, algo que ele não sabe até hoje. Deu um tiro para o ar para impor respeito e rapidamente 15 agentes já tinham sido chamados. O grupo dissolveu-se tão rapidamente como se tinha juntado. No dia seguinte o chefe chamou-o para saber o que tinha acontecido. Os dois jovens tinham apresentado queixa por agressão, tinham algumas nódoas negras. Seriam libertados horas mais tarde por um juiz com mais do que fazer que educar alguém. Malvas passaria o resto da tarde a preencher um relatório e sofreria internamente pela bala disparada.
Felizmente que a PSP do Seixal não passa muitas multas, vão para a Marginal à noite para conferir limites de velocidade e taxas de alcoolemia. Ainda assim, não gosta do que faz nestas noites. Duas horas ao frio, penetrado pelos olhos do responsável para que dê o mínimo de abébias. Malvas cresceu no Seixal, conhece muitos dos automobilistas que manda parar, pedindo-lhes não poucas vezes desculpa pelo sucedido.
A noite está quente para o mês de Maio, o tempo já não é tão certo como noutras alturas. Ouviu na rádio que Portugal tende a ter um clima tropical. Brasileiros já temos, pensou alto ao ouvir a notícia, num dos cafés do Bairro Novo.
João tem pouco trabalho nessa noite, chegando a casa ao fim do turno mete-se dentro da banheira com água quase a ferver e dorme a primeira parte do sono imerso em água.

5 e 6 de Maio - a partir das 22h até ao dia seguinte

Luís encontra-se sentado na cama, de frente à televisão onde ganha 3-0 ao Real de Madrid com o seu SCP. Joga PES.
Ouve o telemóvel apitar com o tom de chegada de mensagem. 80 minutos de jogo. Já te dou a atenção devida. Nos dois minutos que faltam o telemóvel apita mais duas vezes.
Tira o som da televisão e começa a ler as mensagens.
MSG1: Tás em casa, meu? Sabes alguma coisa da Filipa? A Susa telefonou-me, ainda não chegou a casa. Carlos
MSG2: Ainda tás com a Filipa? Onde andam vocês? A mãe dela tá começar a stressar… Susana
MSG3: A TMN oferece-lhe msgs grátis…
Apaga a última mensagem antes de a acabar de ler.
Porra! Porra! Porra! E agora?
Manda mensagem para a Susana a dizer que não sabe nada dela. Telefona para o Carlos. A chamada demora mais de 20 minutos. Depois disso, apaga a luz e passa a noite acordado sem fechar os olhos.
A escuridão não o acalma, tolda-lhe os sentimentos e não pára de pensar para si mesmo, “ O que é que eu fiz? Onde é que te meteste?”
Sai de casa por volta das 6h30, coisa que admira os pais, vai de mota até ao local onde estiveram na tarde anterior, volta para o Seixal, entra no café perto da escola, por volta das 7h30. Bebe três cafés e fuma 5 cigarros seguidos.
Às 8h10, o Carlos entra no café.
-Sabes de alguma coisa?
A frase podia ter sido dita por qualquer um, mas é Luís quem a faz primeiro. Carlos abana a cabeça.
“Tás com um aspecto…Não dormiste nada?” pergunta, enquanto olha para o cinzeiro e para as três chávenas de café. “Isso é tudo teu? Acalma-te meu.”
“Acalma-te? E se ela ainda não apareceu? Estás a brincar?”
“ A culpa não é tua, ela mereceu…” A última frase sai sem grande entoação, mais por misericórdia da situação do amigo.
“Mereceu o quê? E se ela não aparece? E se lhe aconteceu alguma coisa mesmo?”
O outro olha para ele com comiseração. O tipo foi doido ao fazer o que fez, mas…também o compreende. Ele adora-a, é completamente louco por ela.
“Vai lavar a cara e vamos andando para a escola. É possível que ela apareça.”
Luís levanta-se e vai lavar a cara na casa de banho.
Carlos acaba de beber o seu café quando vê Susana entrar com a mãe de Filipa.
“Carlos, viste o Luís?”

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