Não há debate político: nem sequer na tv que cria um espaço artificial, com regras predeterminadas que limitam a espontaneidade das intervenções, o acaso, (...) Nos jornais e na rádio, os debates confinam-se a trocas de opiniões e argumentos entre homens políticos, sempre de um partido, visto que no mundo da política não há lugar para independentes, ou entre comentadores, pretensos «opinion makers» que dialogam constantemente entre si, em círculo fechado. Muitos dos políticos são também comentadores, fazem o discurso e o metadiscurso, o que suscita um circuito abafador e redundante: sempre as mesmas vozes e a mesma escrita nos mesmos tons, com os mesmos argumentos, com o mesmo plano de sentido, como se as ideias políticas se reduzissem a um empirismo sociológico de estratégias partidárias.
Se a política é chata em Portugal, se os portugueses «estão fartos dos políticos», isso não se deve apenas à sua incompetência, mas também ao próprio universo do debate político em que nada de novo, de inovador, de diferente, de forte, de original e estimulante surge para abalar os espíritos. O discurso político tem por função legitimar políticas ou projectos políticos e o metadiscurso confirmar essas legitimações. Confirmar, confirmar: eis para que se acumulam toneladas de argumentos e de pseudo-ideias mais ou menos subtis.
Da perda da curadoria humana do conhecimento
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Imagem: Vito Acconci, *Personal Island*, 1992.
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