“O que foi o almoço, pai?” – pergunta-lhe um dos filhos.
Olha para o filho, pensa um pouco e a única palavra que lhe sai é chocolate.
“Chocolate? Não acredito, pai!”
“Tente lá lembrar-se, pai, o que comeu?”. Agita-se, não se lembra, “calem-se, calem-se. CHOCOLATE! CHOCOLATE!”.
O filho e a mãe pedem-lhe para se acalmar. Que se vão embora senão se acalmar.
Olha para eles. Um dos filhos, a nora e um dos netos, bem como a sua esposa.
Diz que quer ir com eles. “Levem-me”, “Não gostam de mim?” – diz com uma lágrima nos olhos. “Quero estar em minha casa”.
Ouve recusas, directas, leves, que tem que ficar ali, que tem de melhorar se quiser voltar para casa, que tem de colaborar.
Será que não entendem? Quer ir com eles, poder estar deitado na cama dele, sentado à sua mesa, sentado no seu sofá!
Levanta-se, dá uma ou duas voltas. Passa a mão pelos cabelos, coloca as duas mãos nas frontes e volta a sentar-se. Olha para os familiares. “Não gosto de estar aqui”, “Levem-me convosco”, “Não estou maluco, não estou maluco…”.
Com uma tentativa de sorriso nos lábios, mas sem conseguir esconder um olhar de comiseração, tristeza e incapacidade total os familares vão-lhe perguntando o que tem feito, se tem bebido água, se tem tido frio.
Ele olha para eles, levanta-se e um a um pede-lhes, olhando-os nos olhos, para o levarem com ele.
Vê que o neto e a nora vão ao quarto dele. Segue-os. O neto diz-lhe “Grande quarto, avô! Isto aqui é um luxo”. “Qual luxo, qual quê! Quero o meu quarto, a minha casa, estou farto desta…”
“Não posso, avô!”
Repete o mesmo pedido à nora, recolhe a mesma resposta.
“Se melhorar volta para casa”.
Deitado na cama pensa na condição. Se melhorar volta para casa. Se melhorar volta para casa. Se melhora volta………………..adormece.
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O sermão de Domingo passado, chamado "Confronto + conforto = crescimento",
pode ser ouvido aqui (ou no Spotify).
Há 23 horas
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