Deitado na penumbra do quarto, descansa do acto. Vai afagando o corpo da companheira.
Está quase a cair no sono quando a ouve dizer : "Tenho sida!".
Num instante acorda, e pensa em como se viu nesta situação. A noite começara num dos bares in da cidade. Tinha ido só, mas saíra acompanhado. Uns olhares aqui e ali, um copo pago e um convite acabaram a caminho de casa no carro. Daí para a cama tinha sido um pulo. Quem pensa em proteção ou em outra coisa qualquer?
O álcool nos organismos também ajudara.Mas... sida? E porque só agora? E porquê dizê-lo assim?
Apeteceu-lhe gritar, sentiu-se enojado, com azia.Foi então que ela repetiu o que tinha dito: "Tenho sede".
Estupidamente, conseguiu dizer: "Uh?""
Tenho sede, repetiu ela, podes ir buscar-me um copo d´água?""Cla- cla-cla-claro!" conseguiu balbuciar.
A tremer, mas aliviado, foi até à cozinha...
Da perda da curadoria humana do conhecimento
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Imagem: Vito Acconci, *Personal Island*, 1992.
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