segunda-feira, fevereiro 05, 2007

Até aqui tenho evitado escrecer sobre o aborto, ou melhor sobre o (pseudo) debate na nossa sociedade.
Habituado a fazer alguns debates sobre o tema com as minhas turmas já sei o que passa pela cabeça dos portugueses. E já ouvi de tudo, desde aquilo que se ouve por aí até variações bem mais arrepiantes. Quando discutimos o que é vida ou o que é uma pessoa, já tenho ouvido que a criança até aprender a falar ou a andar não é nada, pessoa porque ainda não tem carácter jurídico, vida porque não pode viver independentemente; confesso que já fiquei algumas vezes arrepiado a pensar naqueles alunos, daqui a uns anos, no Governo!
No entanto, e depois de ouvir o Primeiro- Ministro ontem não podia deixar de escrever algumas linhas.
Em Portugal gostamos de ir por atalhos. Alterando a lei do aborto tudo fica bem, é esta a ideia por trás das declarações de José Sócrates ontem: «Sou claro a favor da minha convicção. Sou pelo 'sim' e não pelo 'nim'. Não concordo discordando, nem discordo concordando, porque quem realmente quer despenalizar tem uma boa forma: retirar do Código Penal a penalização às mulheres», «Temos de levar as coisas a sério. Estamos num Estado de Direito. Se esse crime é previsto no Código Penal tem de haver uma pena, porque não há crime sem pena».
O Estado aqui divorcia-se de quaisquer obrigações a que está obrigado. Falamos sempre de Espanha, Espanha criou a sua lei do aborto baseada na nossa, porque é que preferimos subir mais um passo quando nem o anterior foi posto em prática? Achamos que resolveremos todos os problemas? Aqueles que existem continuarão a existir porque quem tem se divorciado das suas obrigações continuará divorciado.
Temos um país anedótico. Temos tudo, não tendo nada. Mas, andamos convencidos que somos um país europeu. Num país como o nosso, com as dificuldades económicas e sociais, com estados que têm medo de decidir e são incapazes de criar a cartilha necessária para nos tirar da lama, andamos há três meses a discutir calorosamente o aborto, quando o aborto não é, na minha opinião, tanto um problema, mas mais uma consequência.
Sócrates dizia ontem que se o Não ganhar a lei fica como está, isto é o importante é o sim vencer e não o Estado levar a cabo as suas obrigações, continuaremos com um estado deficiente e deficitário. Até aqui nada de novo.
Convencemo-nos que o voto vai mudar a situação, do país e das miseráveis e humilhadas mulheres, desenganem-se...sim ou não, continuaremos na mesma.

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