terça-feira, janeiro 29, 2008

Terror




Nos últimos dias consegui ver dois filmes de terror, bem...terror, terror...
Mantendo o desejo de conhecer mais cinema asiático comprei História de Duas Irmãs (um filme sul coreano que há muito procurava comprar) e Spirits (um filme vietnamita).

Confesso que em adolescente vi muito cinema de terror, obrigatoriamente e naturalmente, americano. A determinada altura fartei-me. O molde era sempre o mesmo, e poucas coisas de jeito se fizeram no género nos últimos anos, e o que se fez ou é demasiado gore para o meu gosto ou remakes do cinema asiático, aliás, História de Duas irmãs sairá brevemente nos cinemas, num remake americano!

Entretanto descobri o cinema de "terror" asiático. E mais do que das histórias ou dos actores, agradam-me a ambiência de vários filmes, estes dois são um bom exemplo disso. Agrada-me por vezes a forma quase poética com que se filma, ou se quiserem, a forma como se abordam as personagens, dando-lhes um pouco de profunidade, algo estranho à fraqueza psicológica e ausência de densidade das personagens dos filmes de terror norte-americanos.

História de Duas Irmãs (HDI) subverte o filme de terror tradicional, quase que me atrevo a dizer que é um filme de não terror, filmado como se de um se tratasse. É lento, como muitos dos filmes de terror asiáticos que tenho visto o são. Da paciência do realizador e da história depende a ambiência de que falava.
HDI é um filme familiar. Duas irmãs vivem com o pai e a madrasta, tendo chegado recentemente de uma instituição psiquiátrica, aparentemente após a morte da mãe. As duas têm dificuldades de relacionamento com a madrasta, e como se isto não bastasse começam a ver fantasmas em casa e o pássaro da madrasta aparece morto.
HDI vê-se como a descoberta de um mistério, das razões do que estamos a ver, o que impele as personagens, da melancolia, do desespero.
O filme consegue ser enervante e ao mesmo tempo belo. No final, o filme é explicado através de três ou quatro momentos (flash-backs).

Um filme a ver.
7/10

Aproveito para fazer um parêntesis, tanto HDI como Spirits foram comprados a 5 ou 6 euros, na FNAC.


Spirits é um filme vietnamita, o meu primeiro. E um filme belíssimo.
Spirits não engana ninguém com o título, já que todo o filme anda à volta do espiritual, e de fantasmas, mesmo quando os não vemos.
Está dividido em 3 episódios. Cada um com a sua personagem principal, embora as restantes apareçam, e com ligeiras alterações de estilo e enquadramento.


No primeiro episódio, "the visitor", acompanhamos um jovem escritor, loc, que chega a uma casa velha e decadente, pensando estar abandonada, e encontra hoa, única sobrevivente naquela zona. Triste, mas simpática vai cativando loc, escondendo um segredo fatal.
No segundo episódio, “only child", loc ainda mora na velha casa. Está sob o cuidado da mãe e de uma jovem estudante de psiquiatria. Os dois acabam por casar, e o idílio conhece algumas dificuldades quando se apercebem que ela não consegue engravidar. Também ela guarda um segredo terrível, que poderá trazer conseuqência terríveis para aquela família.
A parte final, “the diviner,” passa-se anos mais tarde. Loc, já de cabelo grisalho, recebe a visita de uma espiritualista itinerante. Ao chegar àquela casa, a charlatona descobre espíritos verdadeiros.
Ao resumir o filme, fico com a sensação de que as histórias são básicas, quase telenovelescas, e podem, ao mesmo tempo, induzir o leitor em erro. A força não está tanto na história em si, o segundo episódio é fortíssimo, mas na forma como se escolhe contar a mesma. E é neste campo que o filme merece os nossos aplausos. É extremamente interessante. Muito bem realizado e estilisticamente mais do que meramente apelativo.
O filme vale pela áurea de mistério que carrega e que vai passando de história para história, mas ao mesmo tempo a noção de tragédia e peso que as personagens vão carregando, e a forma como cada uma delas reage ao seu pathos, e ao pathos dos que já morreram.
Os espíritos do filme não são os fantasmas americanos, não são almas em busca de vingança (nem todas, pelo menos), ou não o fazem de maneira sangrenta.
O que não quer dizer que não meta medo de vez em quando, ou não nos deixe indecisos quanto ao seu final (que infelizmente é um pouco expectável).


Uma nota final para a péssima edição nacional (?). Aparentemente devemos este festival de erros na capa do DVD e de uma legendagem em brasileiro (não, é mesmo brasileiro) a Eurocinefilms. Uma miséria.
Traz um trailer, em espanhol. O resumo, na capa do DVD traz erros em quase todas as linhas e quem o escreveu não sabe que há uma coisa chamada vírgula.
Se o filme não fosse tão bom, pedia o meu dinheiro de volta.

8/10

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