sexta-feira, maio 08, 2009

Olho para a foto do autor do livro. Tem um ar tímido, parvo, mas ao mesmo tempo uma aura de intelectual. Olho-o nos olhos, sem que haja reprocidade. Tento-o encontrar no livro. Mas sei que o autor está sempre ausente das suas obras, mesmo quando presente.
Já o sofri na pele. Gente que me manda mails ou sms, ou faz comentários aqui tentando auscultar a minha saúde física, mental e o meu estado psicológico, sem ter atentado na tag que em baixo diz: Breve Narrativa.
Juntam a pessoa à narrativa, à trama, ao sentimento da ficção. E sinto-me misto. Confundem o poder das palavras com a realidade, confundem o poder e mística da ficção com as possibilidades da realidade, por vezes de pendor ficcional.
Leio algumas linhas do livro e esqueço-me da foto do autor. Porque ele vale enquanto obra, independentemente da ideologia, da gordura, dos hábitos, da personalidade deste. quantos não escrevem coisas diferentes do que pensam? quantos não se inventam e reinventam o presente, passado e porvir nas suas páginas? quantos não se aniquilam, palavra a palavra, frase a frase, somente para que alguns os encontrem nas suas páginas?
Escrevo aqui e acolá, esquecendo-me. Mas sei que alguns me vão encontrar ali, mesmo que não esteja.

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